Depoimentos em audiência confirmam horrores da Casa Azul - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Terça, 16 de Setembro de 2014 às 21:31

Depoimentos em audiência confirmam horrores da Casa Azul

abel siteA Comissão Nacional da Verdade encerrou sua missão em Marabá com uma audiência pública realizada no auditório da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

Na universidade foram colhidos quatro depoimentos de moradores da região sudeste do Pará que sofreram graves violações de direitos humanos durante a campanha militar do Exército contra a guerrilha do Araguaia. Os depoimentos reforçaram os testemunhos colhidos na Casa Azul e demonstram como os moradores da região, sob tortura e ameaças, foram obrigados pelo Exército a colaborar.

Abel Honorato contou os horrores que viveu na Casa Azul. Ele foi preso em 1972 acusado de ser amigo de Osvaldão, um dos militantes da guerrilha mais temidos pelo Exército. "Me prenderam em casa. Depois me botaram no caminhão e me levaram pra Casa Azul. Lá me bateram com vontade. Me retiraram daqui (de Marabá) semi-morto. Saí vestido numa saia, pois não podia botar uma calça (em virtude dos ferimentos causados pela tortura)", afirmou.

Depois da tortura, por conhecer a região de Palestina, Abel foi obrigado a servir de mateiro para os militares. "Disseram pra mim: 'você vai agora voltar e vai ter que dar conta dos seus companheiros'. Fui obrigado a trabalhar de guia até depois da guerra, sob os olhos de Curió (o coronel Sebastião Alves de Moura). Até em Serra Pelada (garimpo dirigido por Curió nos anos 80), fiz missões para ele. Tem 40 anos dessa guerra, mas pra mim é um desgosto. Fui muito judiado, fui muito acabado. Até hoje eu não sou ninguém", disse.

No depoimento, Honorato contou ter visto o corpo de Osvaldão. "Cheguei ao local pouco depois da patrulha que o matou. Atiraram nele. Ele não atirou. Estava com uma espingarda de dois canos, uma 20, mas não teve tempo", contou. Em seguida, os mateiros e soldados abriram uma clareira na mata com uma motoserra e o corpo foi içado por helicóptero e levado para local que ele desconhece.

"Eu tive de contar até o que não sabia para escapar. Eu tive que dizer, forçado, que fui um amigo do Osvaldão, mas hoje eu posso dizer, de verdade, que fui amigo dele, pois ele foi amigo da região, ajudou muita gente", disse Honorato.

Ele afirma ter reconhecido o ex-delegado da Polícia Civil de SP, ex-senador e ex-superintendente da PF, Romeu Tuma, como um dos "doutores" que atuavam com Curió nas ações no Araguaia. Lá, afirma, Tuma era conhecido como Dr. Silva.

Além de Honorato, também prestaram depoimento na audiência Raimundo de Souza Cruz, o Barbadinho, Pedro Nascimento, o Marivete, que confirmaram e deram mais informações sobre o que informaram à CNV a respeito da Casa Azul, e Ivaldo José Dias, o Juca, que hoje pela manhã participou de diligência no cemitério Jardim da Saudade, em Marabá, indicando locais de possíveis enterros clandestinos.

"O tempo pode fazer a gente perder a sensibilidade para o horror, mas não podemos perder essa sensibilidade. Isso é fundamental, as pessoas precisam ter a memória do horror para que o horror não aconteça mais", afirmou o coordenador da CNV, Pedro Dallari.

CEMITÉRIO - A missão da Comissão Nacional da Verdade em Marabá esteve hoje de manhã no cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Nova Marabá, onde Juca, e seu irmão, Ivan Jorge Dias, indicaram dois pontos do cemitério onde participaram de enterros clandestinos nos anos de 1972 e 1973.

Eles afirmam que 17 pessoas podem ter sido inumadas no local. Jorge afirma que retirou em torno de quinze corpos em um hospital ao longo desse período. Juca afirma ter recolhido dois corpos no 52º Batalhão de Infantaria da Selva (BIS). Todos os corpos foram sepultados em covas rasas, afirmam.

Mais tarde, na audiência, Juca afirmou ter medo de contar tudo o que sabe, pois foi ameaçado por um militar da região.

Donos de uma kombi e interessados na expansão econômica da região, eles deixaram o norte fluminense e migraram para o sudeste do Pará. Confundidos com terroristas, eles foram presos e torturados pelo Exército e obrigados a colaborar com a repressão.

As atividades da CNV em Marabá foram realizadas com o apoio da Comissão da Verdade do Pará, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia (ATGA), presidida por Sezostrys Alves da Costa, que há mais de 20 anos atua na região em busca de depoimentos de moradores da região vítimas das campanhas militares do Exército contra a guerrilha, e da Unifesspa.

Saiba como foi o primeiro dia da CNV em Marabá.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

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