Epaminondas é enterrado em Porto Franco (MA) 43 anos após sua morte - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Domingo, 31 de Agosto de 2014 às 19:41

Epaminondas é enterrado em Porto Franco (MA) 43 anos após sua morte

14 maranhao sepultamentoLíder comunista do sul do Maranhão, Epaminondas Gomes de Oliveira morreu sob custódia do Exército em Brasília. O local exato de seu sepultamento foi localizado pela Comissão Nacional da Verdade

Quarenta e três anos depois de sua morte, em Brasília, após ter sido preso e torturado por militares do Exército, o líder comunista Epaminondas Gomes de Oliveira foi enterrado hoje, 31 de agosto de 2014, no jazigo da família, no cemitério Jardim da Saudade, em Porto Franco, Maranhão, ao lado da esposa, Avelina da Cunha Rocha, falecida em 2004.

Avelina não sobreviveu para ver o dia em que seu marido, preso na Operação Mesopotâmia, em um garimpo no Pará, em 7 de agosto de 1971, voltou fisicamente para casa. De seus filhos, apenas Epaminondas Rocha de Oliveira pôde comparecer à cerimônia em que o corpo de seu pai recebeu as últimas bênçãos. Sua irmã Beatriz, que vive no Pará, doente não pode comparecer à despedida e ao enterro.

Entretanto, netos, bisnetos e trisnetos de Epaminondas Gomes de Oliveira, além de amigos da família, autoridades, suas noras e companheiros presos com ele na Operação Mesopotâmia puderam prestar suas homenagens a este herói brasileiro.

Ângela, neta de Epaminondas, filha de Epaminondas Rocha, leu a mensagem da prima Régia Maria de Oliveira Souza, que vive em Belém e não pôde estar presente. "Nosso avô nos ensinou com a sua vida o mesmo que ele aprendeu com o criador , doar a vida pelos amigos, mesmo que causasse dores. Ao não fugir da luta, mesmo ela sendo desigual. Por isso, hoje, estamos recebendo por ele a Justiça, afinal. Que outras famílias tenham a oportunidade de saberem pelo menos a verdade do paradeiro de seus entes queridos", escreveu a prima.

RETIFICAÇÃO DO ATESTADO DE ÓBITO - Epaminondas Oliveira Neto, que foi o elo de ligação entre a família e a CNV durante o processo de investigação que culminou na identificação de seu avô, disse que a família agora lutará na Justiça para que no atestado de óbito de Epaminondas Gomes de Oliveira conste que ele morreu em decorrência das torturas que sofreu no Maranhão e em Brasília. No atestado de óbito emitido pelo Exército consta que Epaminondas morreu vítima de anemia e insuficiência renal. Na declaração de óbito entregue ao cemitério constam anemia, choque e coma anêmico.

Para o assessor da CNV, Daniel Lerner, a idade avançada de Epaminondas e a tortura tornam pouco crível a versão oficial de morte natural. "Ainda que ele fosse um doente renal, essa condição de saúde e até mesmo sua idade, 68 anos, agravariam seu quadro em consequência dos choques e espancamentos que ele sofreu", afirmou.

Já o médico legista Aluísio Trindade, do IML-DF, um dos que elaboraram o laudo que concluiu pela identificação dos restos mortais de Epaminondas Gomes de Oliveira, a vítima, segundo os depoimentos colhidos pela CNV , com a participação do médico, gozava de boa saúde antes da prisão. "O exame dos ossos não permitiu desmentir , acrescentar , nem tampouco ratificar o laudo oficial", afirmou.

ENTERRO – Da loja maçônica Tiradentes, em Porto Franco, após uma benção do padre Juarez, a família de Epaminondas decidiu levar seu caixão em cortejo a pé pelas ruas da cidade até o Cemitério Jardim da Saudade, para que Epaminondas fosse enterrado ao lado da esposa.

Anos antes, quando morreu Cromwell, filho da vítima, pai de Epaminondas Neto, uma forte chuva em Porto Franco impediu que ele fosse enterrado ao lado da mãe. Essa coincidência permitiu que o primeiro desaparecido político identificado pela CNV fosse enterrado ao lado dos restos mortais da esposa, Avelina. O público cantou "Para Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando)", de Geraldo Vandré, enquanto o corpo baixava a sepultura, pouco antes do pôr-do-sol no Maranhão.

Saiba como foi a investigação que resultou na identificação de Epaminondas Gomes de Oliveira

Logo após o sepultamento de Epaminondas, na noite de domingo, Epaminondas Neto recebeu uma carta enviada por e-mail por Alípio Cristiano de Freitas, o ex-padre Alípio, que militou na organização das ligas camponesas e no PRT (Partido Revolucionário do Trabalhador), ligado à Ação Popular, grupo de oposição à ditadura majoritariamente formado por jovens católicos.

"Epaminondas foi um lutador desde o primeiro dia em que tomou consciência que era necessário mudar o mundo, foi um combatente revolucionário que fez da sua vida a sua luta, um daqueles que por ter lutado todos os dias da sua vida se tornou imprescindível", escreveu Alípio.

Leia a carta do padre Alípio: "Voltaste amigo, velho guerreiro!"

Comissão Nacional da Verdade
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