Depoimentos em Santos revelam faces pouco conhecidas da ditadura - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Quinta, 28 de Novembro de 2013 às 23:27

Depoimentos em Santos revelam faces pouco conhecidas da ditadura

A Comissão Nacional da Verdade colheu em Santos 19 testemunhos em sessões organizadas por sindicalistas e pela sociedade civil

O sindicalista Luciano Valadares, hoje com 60 anos, levou quase 40 para se livrar de um segredo. Há poucos anos ele contou para parentes que foi preso, torturado, ameaçado e humilhado por seus superiores da Força Aérea quando serviu na Base Aérea de Santos, localizada no município do Guarujá. O motivo: ele ofereceu comida a um grupo de pessoas que chegou presa à base, em caminhões do Exército.

A vergonha e o medo de que as ameaças feitas a ele e sua família fossem cumpridas o impediram de revelar antes sua história e sua mãe, Dirce, morreu há poucos anos sem saber o que se passou com ele no final de janeiro de 1972. Entretanto, hoje, perante pesquisadores da CNV, da Comissão da Verdade de Santos, e da Comissão da Verdade de Cubatão, ele contou sua história em público.

"Esse depoimento é para mostrar que muita gente também foi presa e torturada na Base Aérea de Santos e isso não está escrito em lugar nenhum. Se um soldado apanhava como apanhei porque eles achavam que o soldado escutou alguma coisa, só porque eles achavam, sem ter prova nenhuma, imagine outros", disse.

O uso da Base Aérea de Santos como prisão e palco de tortura é pouco conhecida e a Comissão da Verdade local tenta aprofundar a investigação. Bem mais conhecida na região é a história do navio Raul Soares, um verdadeiro campo de concentração marinho que atracou no Porto de Santos, às portas da cidade, à vista de todos. Uma forma tosca de solucionar a superlotação da única cadeia da cidade, no Palácio da Polícia, abarrotada de presos políticos da região, a maioria deles líderes sindicais.

Entre os presos, além de presidentes e diretores de sindicatos, que apoiavam as reformas de base do presidente deposto João Goulart, o navio abrigou também o prefeito José Gomes, cassado pelos ditadores, e outros políticos opositores do regime.

Para Rosa Cardoso, coordenadora do GT Trabalhadores da CNV, o navio Raul Soares é "um símbolo do Terror de Estado". Segundo Rosa ancorar um navio, na frente de um município, com a importância estratégica de Santos, e "transformá-lo num campo de concentração tinha apenas um objetivo: aterrorizar a população".

Leia aqui o discurso de Rosa Cardoso na abertura do ato sindical.

Histórias das prisões no Raul Soares e sobre a perseguição sofrida por políticos e sindicalistas da Baixada Santista foram contados à CNV no Ato Sindical Unitário, realizado ontem (27/11) e hoje, durante o Encontro com a Memória e a Verdade, realizados em Santos pelo Coletivo Sindical de Apoio ao grupo de trabalho Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical da CNV e pelo Comitê Popular de Santos por Memória, Justiça e Reparação. Ao todo, 19 depoimentos foram colhidos.

DESAPARECIDO COLABOROU COM ARGENTINOS E CHILENOS – Thereza Ferraz contou as histórias do irmão João José Campanillo Ferraz, preso em 1964 devido à militância estudantil e de um amigo da família, Odair José Brunocilla. A Comissão da Verdade de Santos investiga se o desaparecimento de Odair pode ter motivações políticas.

Odair era despachante e ajudou muitas pessoas a fugirem para o Chile e para a Argentina e, posteriormente, havia se comprometido a tratar da documentação de vários cidadãos desses dois países, segundo o apurou a Comissão de Santos, que juntou-se a Thereza e familiares do despachante em busca de informações.

A família recebeu uma informação de que o despachante teria sido sequestrado e torturado pela Polícia Federal em 1978, que buscava a relação de pessoas que ajudou a entrar e sair do país. Seu corpo teria sido jogado no mar. Se você sabe o que aconteceu com Odair, procure a Comissão da Verdade de Santos: 13-3219-1890.

SABOTAGEM SALVADORA – Outro depoimento revelador foi prestado por Mauro Cunha, o Maurinho, ex-líder sindical petroleiro, que trabalhava na refinaria Presidente Bernardes em Cubatão. Em 1964, a unidade da Petrobras sofreu intervenção logo após o golpe e foi tomada por militares.

Cunha e um colega grampearam os telefones dos interventores e, com isso, conseguiram alertar outros trabalhadores que estavam na iminência de ser presos. Ao perceber que os militares desconfiavam de algo, interromperam rapidamente a interceptação telefônica. Mesmo assim, ele foi denunciado por outro colega, mas foi absolvido na Justiça Militar por falta de provas, o que não impediu que fosse monitorado e acusado em outros três processos.

Além dos mencionados, prestaram depoimento à CNV em Santos: os líderes sindicais Oswaldo Lourenço, Raphael Martinelli, Betty Gomes, filha do prefeito cassado José Gomes; a deputada estadual Telma de Souza, ex-prefeita de Santos, filha de João Inácio de Souza, presidente da Câmara dos Vereadores de Santos, cassado em 1964; Celso Manço, ex-líder estudantil; Antonio Moreira, ex-SMTC; Ademar dos Santos, ex-diretor do Sindicato dos Portuários; Vitorino Nogueira, ex-diretor do Sindicato dos Portuários; Aparecido Andrade, o Cidão, ex-sindicalista metalúrgico e bancário; Olga Galatti, filha de Vitor Galatti, militante do PCB; Altair Leite de Assis, ex-metalúrgico; Vilma Guerra, filha de Valdemar Neves Guerra, ex-presidente dos Portuários; Washington Luís Carregoza, ex-bancário; Florivaldo de Oliveira Cajé, advogado; Alcino Golegan, filho de Osmar Golegan, ex-portuário e Romualdo Amores Umbria, ex-cosipano.

Veja fotos e mais informações sobre os depoimentos no Facebook da CNV.

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Assessoria de Comunicação

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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