Restos mortais de líder camponês são exumados em Brasília - CNV - Comissão Nacional da Verdade
Portal do Governo Brasileiro

A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

Banners rotativos Títulos dos banners apresentados
Terça, 24 de Setembro de 2013 às 18:43

Restos mortais de líder camponês são exumados em Brasília

montagem epaminondasPrótese dentária de prata foi localizada na sepultura no fim da tarde; parentes comemoraram o achado

A pedido da Comissão Nacional da Verdade e com autorização da família, médicos legistas do Instituto Médico Legal do DF, peritos da Polícia Civil do DF e funcionários do cemitério Campo da Esperança realizam desde as 10h de hoje a exumação dos restos mortais que podem ser do líder camponês comunista Epaminondas Gomes de Oliveira, que atuava no sul do Maranhão e foi morto aos 68 anos, na Capital federal, sob custódia do Exército, em 20 de agosto de 1971.

No final da tarde foi encontrado no local uma prótese dentária de prata. O fato foi comemorado pelos familiares de Epaminondas que acompanhavam os trabalhos, pois seu avô usaria esse tipo de dente postiço. De toda forma, os restos mortais passarão por exames de antropologia forense e de DNA, visando a identificação.

Apesar da chuva que caiu durante parte dos trabalhos e de um pequizeiro ter nascido ou já existir sobre o local em que foi sepultado Epaminondas, ambos fenômenos naturais não atrapalharam os trabalhos da Comissão da Verdade e dos peritos, que localizaram, por volta de meio-dia, a 1m10 da superfície, peças metálicas do caixão que envolvia o corpo e, uma hora depois, os primeiros sinais de ossos. O trabalho de exumação terminou logo após as 19h de hoje.

O trabalho foi acompanhado de perto pelo coordenador da CNV, José Carlos Dias, que coordena o GT Mortos e Desaparecidos, e pelos membros da comissão Maria Rita Kehl, coordenadora do GT Indígenas e Camponeses, e José Paulo Cavalcanti Filho, coordenador do GT Estruturas da Repressão.

Além de identificar se os restos mortais realmente pertencem a Epaminondas Gomes de Oliveira, os exames tentarão elucidar a verdadeira causa da morte. "Estamos à procura de vestígios de traumatismos", afirmou o médico legista Aluizio Trindade, do IML-DF, e que integra também a equipe técnica do Grupo de Trabalho Araguaia. Segundo declaração de óbito emitida pelo Exército, em 1971, Epaminondas morreu de choque decorrente de anemia e desnutrição. Entretanto, a suspeita da CNV e da família é que o líder camponês tenha morrido sob tortura.

O trabalho da CNV também conta com a colaboração da Polícia Federal. Na última quinta-feira (19), a PF utilizou um radar de penetração de solo para pesquisar a sepultura e hoje à tarde os dois netos de Epaminondas, Epaminondas de Oliveira Neto, que autorizou o procedimento, e Cromwell de Oliveira Filho, que acompanharam a exumação, colheram amostras de DNA para comparação com as eventuais amostras que serão colhidas dos ossos.

LÍDER - Epaminondas era um líder comunista, ligado ao PCB. Segundo a família, era um homem pacífico e não aderiu à luta armada, apesar de ser um opositor da ditadura. Ex-prefeito do município de Pastos Bons, no sul do Maranhão, onde nasceu, radicou-se no município de Porto Franco e, no fim da vida, dedicava-se ao garimpo de diamantes em Ipixuna, no Pará, onde foi preso.

"Ele juntou dinheiro ao longo de 18 anos para comprar um motor para o garimpo, mas quando realizou este sonho foi preso", relatou à CNV Epaminondas Neto. "Lembro muito bem da última vez que o vi, eu tinha 9 anos. Ele estava no caminhão em que levava o motor para Ipixuna e trouxe uma bicicleta para mim", contou emocionado.

Neto faz um verdadeiro trabalho de guardião das memórias do avô e trouxe para Brasília uma série de documentos que ajudarão a Comissão da Verdade a montar o quebra-cabeças do caso de Epaminondas. Um dos mais importantes foi o certificado de reservista original do líder camponês e político, emitido em 1946. O documento informa a altura e outros elementos que ajudarão o trabalho de medicina e antropologia forense que será realizado nos restos mortais.

TORTURA - Segundo Epaminondas Neto, a família localizou uma pessoa que conhece uma testemunha da prisão. Essa pessoa, que pediu para que não fosse identificada, por ser traumatizada pelo episódio, contou que Epaminondas foi torturado por meio de espancamento e choques elétricos. "Ele foi um herói. Morreu dizendo: 'sou comunista, mas ninguém vai corremper meus ideais", afirmou Neto.

Há também entre as relíquias fotos e uma carta de Epaminondas, já preso, enviada de Imperatriz, em 11 de agosto de 1971, em que ele dá instruções aos filhos sobre o garimpo no Pará e informa a esposa, Avelina Cunha da Rocha, que seria levado para Brasília.

Em depoimento aos membros da CNV, Neto contou que obteve a informação de que o avô, uma liderança local em Porto Franco, pediu apoio do Partido Comunista para que fossem enviados médicos para a cidade, ocasião em que João Carlos Haas Sobrinho, morto na guerrilha do Araguaia anos mais tarde, atuou no município.

A Comissão Nacional da Verdade encontrou novos dados sobre o caso de Epaminondas e uma foto até então inédita. nos acervos da base do SNI no Arquivo Nacional. Entre os documentos estava uma comunicação do Exército que informava que o líder camponês estava sepultado na quadra 504 do cemitério. A CNV foi então ao Campo da Esparança e localizou em seus livros o número certo da sepultura do líder camponês e fez contato com a família.

Nos próximos dias, a Comissão pretende ir até o Maranhão com técnicos da PF para colher amostras de DNA de filhos de Epaminondas para aumentar as chances de identificação. Segundo Epaminondas Neto e Cromwell Filho, caso identificado Epaminondas deverá ser enterrado ao lado de Avelina, na cidade de Porto Franco, no Maranhão, mas a decisão final será tomada coletivamente. A família deve exigir também um enterro com honras e um pedido formal de desculpas do Estado brasileiro.

Veja o álbum de fotos da exumação no Facebook da CNV.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
(61) 3313-7324 | O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Acompanhe a CNV nas redes sociais: Facebook, Twitter e Youtube



Comissão Nacional da Verdade